quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Ruínas e formações naturais em Palmeiras confundem acadêmicos e leigos.

Tive que fazer este artigo, porque após dois anos estudando o assunto, percebo, a todo momento, que no geral, as pessoas não tem condições de avaliar claramente o que é uma coisa ou outra.A situação criada no local está extremamente confusa , dada a desastrosa escavação executada , e a falta de interesse em esclarecer o caso, incluindo o proprietário , arqueólogos, e organismos.Estou começando a me convencer de que não é o caso de tentar esclarecer mais nada, pela dificuldade de poder verificar algo que não tenha sido alterado,no local. quero dizer  que  mexeram em tudo , assim como confundiram as informações que circularam a respeito desde o inicio. Pessoas fizeram afirmações e depois as desmentiram.E ainda temos o agravante de que outros podem ter visto uma coisa e imaginado outra, considerando que não eram especialistas no assunto.  

Para piorar as coisas estamos tratando com basalto , material que em uma  jazida natural soterrada pode dar a ideia de  estruturas artificiais. Confundindo mais o assunto. Fica claro que em todo local onde blocos de basalto forma usados em construções primitivas, foi porque o próprio material era abundante no local, as vezes, até no próprio sítio da ruína. Consequentemente, no próprio local da construção, podem aparecer no subsolo estruturas naturais, e em cima, estruturas construídas com os próprios  blocos do local, isto é o que está começando a parecer que aconteceu em Palmeiras.  Para ilustrar isso, coloco  fotos com comentários esclarecedores  que espero ajudem a entender a complexidade do caso de Palmeiras, e o porquê da possível irracionalidade das declarações de varias pessoas, mesmo acadêmicos.
Nós mesmos, com o exame dos fatos que foram surgindo temos que ir reformulando nossos pontos de vista  uma vez que estamos interessados em saber qual a realidade. Aqui, vamos ver como a escavação desastrosa do local confundiu leigos e acadêmicos. Para piorar as coisas o proprietário do local que filmou e fotografou toda a escavação, mas  se nega a mostrar  as fotos, apenas tenta esconder o assunto.Evidentemente que toda a escavação desastrosa e a posterior tentativa de ocultar o sitio pioram a situação. 

 Os  muros que não podemos ver porque foram desmontados


Quando digo desmontados, refiro-me a que possivelmente não havia argamassa neles,  seriam muros de pedra seca, e por tudo o que pude investigar ate agora, em campo,  falando com quem os desmontou ,chego à conclusão que eram de blocos de basalto em bruto,  alongados.
 Não eram  blocos chamados de matacões , ”boulders”, mas sim originários de basalto colunar.

Quanto à forma desses  blocos, aconteceu um fato que parece corroborar  esta ideia , pois quando desmontaram um dos muros, os blocos foram levados para construir um poço de água com uns 30 m de perímetro e dois de profundidade a uns 300 m de distancia do sítio.
 Levantaram as paredes e argamassaram mais ou menos os blocos, porem com a pressão  da  água, a parte mais exposta, e em desnível, começou a ceder,  tiveram então que colocar os blocos com sua maior dimensão, de topo ao poço, para dar maior espessura ao dique. Esta descrição do problema dá a ideia exata de serem blocos colunares que tendem a ser menos volumosos e mais  compridos , e  que agora estão bastante argamassados, e baixo a água.
Outra testemunha descreveu esses blocos como” todos certinhos”.  O problema é que para um leigo um bloco de basalto natural pode parecer “certinho”e de talha artificial, ainda que não seja.  Se for esvaziado o poço, poderá ser confirmado  o assunto.
Com esses dados poderia admitir que havia um muro rustico de blocos de basalto que revestiam o barranco onde por  trás aparecem  estruturas naturais, das quais algumas podemos ver ainda. É fácil presumir que um muro simplesmente montado de blocos sem argamassa é fácil de desfazer, mas que uma estrutura natural de basalto enterrada não é tão fácil.
 Portanto permanece a possibilidade de que havia um muro artificial revestindo esse barranco , mas para confirmar isso, haveria que fazer escavação onde se encontra a parte de  baixo dos muros ,posteriormente enterrada. Não creio que caso fosse um muro estivesse argamassado, porque estaria fora da lógica comum a estes muros ,geralmente de pedra seca. Também pode acontecer que em uma formação natural  de basalto , após a fragmentação dos blocos forma-se entre eles  depósitos de material alterado que podem ser confundidos com argamassas.   
 
O pavimento

Aqui temos o que foi possível levantar na ocasião  da primeira ida ao local , quando o mato não estava muito crescido.Com certeza ainda subsistem mais blocos que aqui não estão representados.



Pequeno trecho do calçamento que desenterramos , correspondem aos blocos de cima no desenho.

Pavimento em Gunung Padang , Java

Esta formação tem o mesmo aspecto de outros pavimentos similares em outros locais do mundo, no entanto poderíamos levantar a duvida de que seja apenas uma formação em disjunção colunar. Para ter certeza disso, haveria que escavar abaixo dessas  pedras e verificar se existe continuidade dessa formação para baixo. Más não é o que parece.Inclusive foi em cima desse pavimento e abaixo de um bloco que apareceu uma cerâmica. 
Analisando  as poucas pedras que ficaram, notamos que os blocos de um mesmo alinhamento não são todos similares em seu perímetro , condição básica em uma formação  colunar , onde todos os blocos da coluna são, ou hexagonais,ou pentagonais, etc. Mais uma vez temos que dizer que a destruição que foi feita aqui na ocasião da escavação confundiu as provas e agora fica mais difícil analisar e chegar a uma confirmação.Foi um caso clássico de "cena de crime" totalmente alterada.
 Estes blocos do pavimento estão nivelados, e no geral ,com uma parte bem plana para cima, o que caracteriza um pavimento. Alguns blocos estão tortos , mas isso pode ser atribuído ao fato deterem colocado uma  bulldozer para escavar o local  (!?) Se tivesse havido um cuidado no momento da escavação muitas duvidas não existiriam mais, porque uma simples observação da colocação das pedras responderia tudo. Inclusive, como escavaram entre as pedras, não sabemos se entre elas havia pedras menores ou apenas material miúdo. 
Desconfiamos que para o lado leste, (esquerdo de quem olha para o topo da colina)  ainda possa haver uma pequena  parte desse pavimento inteiro, o que poderia responder algumas coisas. Ao comparar a direção de inclinação das formações naturais de basalto do barranco, verificamos  que a inclinação não é a  mesma do pavimento, o qual está horizontal e nivelado.  

 8.jpg dscn2013.jpg
O aspecto do pavimento na ocasião da escavação em 2003, aqui vemos os mesmos blocos que  aparecem no desenho acima. Á esquerda havia um dos muros onde descreveram vestígios de uma escada. No fundo da foto embaixo vemos alguns blocos quadrangulares regulares, já deslocados, não sabemos se do muro ou do pavimento.
Mais ao fundo vemos um terreno que foi escavado mais profundamente e onde o calçamento foi totalmente eliminado,segundo testemunhas, note-se que na foto com maior detalhe não se vem quase  pedras apenas uma aparente laje ainda enterrada, do lado esquerdo.Poderíamos então concluir que o calçamento é um obra artificial e não o afloramento de uma jazida de basalto colunar.(foto embaixo). 



   
Olhando a foto frontal do barranco, onde vemos dois blocos , percebemos que apesar de chamarem a atenção pela regularidade e o alinhamento, feririam um principio básico de construção , eles não estão nivelados, e sim inclinados É praticamente seguro que isto é uma formação natural de basalto em disjunção horizontal.Se havia muro, ele devia estar na frente desta formação regularizando o barranco.

 


Tudo indica que aqui estamos vendo formações naturais de basalto, sendo que na frente destas formações  haveria  um dos muros , e essas pedras que vemos poderiam fazer parte dele , porem será necessário fazer uma escavação.No entanto esses blocos que vemos nas ultimas fotos são pouco espessos para serem de um muro de arrimo racional, ainda que sejam bem regulares.Fica a duvida,  por enquanto.   

010.JPG  014.JPG 
Aqui estaria o outro muro, mais afrente do barranco mostrado nas fotos anteriores sendo que essas pedras que vemos poderiam fazer parte dele , porem será necessário fazer também uma escavação. Já o bloco da foto esquerda , o mais regular da ponta esquerda  podemos vê-lo em detalhe na foto do lado, verificando, que tudo indica ter sofrido talha regularizadora. Desde este alinhamento em direção aos fundos é que se encontrava o calçamento, e as pedras que pudemos registrar. Ou seja, o pavimento  estava entre dois muros , e por consequência era um terraço.  Testemunhas relatam que havia uma escada estreita também.  

    
Formações naturais de basalto em Paraúna, Goiás A formação da foto de cima  poderia parecer para alguém desavisado uma estrutura artificial. Já nos blocos da foto abaixo vemos tanto, alguns blocos colunares, assim como matacões .Em Palmeiras parecem ter sido usados  dos dois tipos tanto regularizados, como em bruto .

  
Em cima, blocos tipo” boulders”  em Paraúna , Goias, e embaixo, jazida de basalto colunar no próprio sítio de Gunung Padang , em Java.Estes blocos colunares foram usados naquele monumento, para construir um muro de arrimo, como vemos na foto seguinte, e lá mesmo, também foram usados blocos do tipo" boulder" , em muro que  também vemos embaixo.
Gunung-Padang-the-wall-.jpg

Aqui temos tanto blocos colunares como “ boulders” de basalto, constituindo muros de arrimo em Gunung Padang , Java

Os elementos nitidamente arquitetônicos isolados  que havia ou há em Palmeiras

Mas mesmo fazendo todas as observações que fizemos , acautelando-nos quando  analisamos as imagens de formações  naturais de basalto comparando-as  com estruturas construídas, temos estes elementos nitidamente de uso comum na arquitetura pré-colombiana, blocos e lajes, achados no local  que falam claramente em que ali há uma ruína , ou houve, considerando o saque tremendo que houve durante décadas , e que, alem do mais, foi seletivo , catando de preferencia peças regularizadas.

Todas estas peças que aqui mostramos, e outras que pudemos examinar, não tem marcas de ferramentas de cantaria colonial ou modernas , Mas aparentam o efeito de terem sido trabalhadas por processos , no minimo , similares   ao que encontramos nas culturas andinas.     

    
foto14.png       foto17.png  
    
As lajes das duas ultimas fotos, curiosamente, tem medidas muito similares, variando pouco entre  55cm X 75cm,e com uns 17 cm de espessura media, mesmo estando distantes uma da outra. A que vemos em cima também obedece a esse padrão , que parece ser o mesmo das lajes da foto do meio , que já foram roubadas do local .
Todas estas peças não apresentam vestígios de uso de ferramentas de aço. Suas arestas são arredondadas e  com superfícies com aspecto de martelagem rustica, e polimento ocasional, inclusive apresentando irregularidades .

Possíveis  artefatos que podem denunciar o local como sítio arqueológico

Fora um vaso cerâmico achado no local , relatado por varias testemunhas ,foram localizados alguns artefatos que podem ser instrumentos ou registros  

ip 17.png
Possiveis cunhas variando entre 15cm e 30 cm. Ao lado, registros? Embaixo,para comparação vemos uma cunha da Ilha da Pascoa , com as quais esculpiam os moais,  que eram trabalhados em basalto.

          

Essas pontas de flecha  de  quartzo rosa foram localizadas na margem do Rio Paraibuna, mas do outro lado, oposto ao sítio de Palmeiras. Por curiosidade, existe um depósito de blocos de quartzo  rosa ao pé da colina de Palmeiras, e parece que foram levados para ali no passado.E eram muitos, mas muitos foram levados para a fazenda e colocados em círculo como vemos na foto. 
Esses são alguns fatos conclusivos e significativos sobre Palmeiras.


Carlos Pérez Gomar , arquiteto , Rio de Janeiro 30 de setembro de 2015 

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