domingo, 2 de novembro de 2014


ruína pré-colombiana de Fazenda Palmeiras.

(clique nas fotos para amplia-las)

Este informe está mais  dirigido ao exterior, uma vez que aqui no Brasil,  há mais de 10 anos,  não desperta o menor interesse de  nenhum organismo  oficial. Não há percepção sobre a importância do assunto, nem entre os arqueólogos nem entre os arquitetos.  

Este informe está mais  dirigido ao exterior, uma vez que aqui no Brasil,  há mais de 10 anos,  não desperta o menor interesse de  nenhum organismo  oficial. Não há percepção sobre a importância do assunto, nem entre os arqueólogos nem entre os arquitetos. 

Creio que  não tenho sido suficientemente enfático a ponto de deixar bem claro que esta ruína não é algo recente, e sim muito antigo , pelos materiais usados , o nível de soterramento, e com certeza  data  de antes da  ocupação da região pelas tribos tupis ,o que nos levaria no mínimo a   talvez,  uns 2000 anos atrás, podendo ser mais antiga.


Não  se  tem  noticia  oficial de haver sido encontrada alguma ruína similar em território brasileiro até o momento. Dai o medo e a recusa do IPHAN-SP, em reconhecer o sitio, além do que os peritos que lá estiveram algumas horas, não se deram o trabalho de analisar atentamente o assunto ,e com certeza  tinham pouca  capacidade para verificar o assunto, ou mesmo "ajeitaram" as coisas para não criar polemicas. Já foram feitas duas denuncias ao Ministério Publico sobre este assunto , e também enviado relatório ao  IPHAN-SP e a única resposta foram deboches e tentativas de desautorizar relatórios feitos por geólogo e arquiteto que visitaram o local e confirmaram  tratar-se de uma ruína.
  
Conteúdo deste relatório :

A natureza dos blocos do local.

A possível geomorfologia  antiga do local.

Restos de elementos construtivos e estruturas arquitetônicas que havia no local.

Possíveis catástrofes que atingiram o sitio.

Semelhança com outros locais no mundo.

Qual seria a antiguidade de do sítio de Palmeiras?

Possíveis utensílios e cunhas achadas em Palmeiras.

Tenho estudado o assunto desde 2012, e visitado o local  quatro vezes. Tudo começou quando vi as fotos de um antigo calçamento em um site na internet e fiquei espantado pelas suas características. Com certeza era uma ruína muito antiga e que não tinha nada de colonial. Este tipo de construção não é encontrado no Brasil pré-colombiano ou pré-pré-pré-cabraliano, ou ainda pré-colonial, como alguns acordaram ser agora o  termo correto. Na verdade  o mais provável é  que nunca nenhuma ruína  similar tenha sido diagnosticada corretamente. Foram sendo destruídas inadvertidamente, como aqui aconteceu.É bom esclarecer que em Natividade da Serra a destruição de vestígios arqueológicos tem sido uma constante.Tenho noticia de mais de um sitio destruído por medo a que a pesquisa implique em perda da propriedade, entre eles um cemitério indígena repleto de urnas , sobre o qual foi passado um trator para esconde-lo.Cemitério situado em uma tipica " terra preta de Índio' , onde os vegetais crescem enormes, tais como maracujás de um quilo e mandiocas de 43 quilos. A ruína de Palmeiras  sofreu o mesmo problema, medo das implicações legais com a propriedade. 

Infelizmente poucos perceberam a importância e raridade do assunto e se apresaram a emitir opiniões sem mesmo ir ao local ou reparar o tipo de blocos ou de talha dos mesmos. Outros,  em postura acadêmica, sem colher  a menor informação  no local classificaram o calçamento como restos de uma antiga pedreira, ou pior, restos da antiga e falida estrada de ferro Ubatuba-Taubaté, que nem chegou ate ali. Os blocos são de basalto e muitos sem talhar, isso já coloca o sitio normalmente fora de um contexto  de origem contemporânea   ou  colonial, frisando que os vestígios mais reconhecíveis como estruturas artificiais estavam e estão  muito enterrados.

Pior foi a atuação de dois peritos a serviço do Ministério Publico que foram ao local atendendo a uma denuncia de destruição de sitio arqueológico em 2004 que disseram não haver “nada de interesse arqueológico no local”, o estarrecedor é que eram professores  da USP. E que classificaram tudo como obra da natureza atribuída a um grande “conduto magmático”. Nesse ponto quase arranharam a verdade, em virtude de que os blocos de basalto são originários de derrames de lava. E a coleção de bobagens emitidas por muitas pessoas não parou por ai, resultando em uma vulgarização e desmoralização do assunto, que acabou na noticia em que havia sido descoberta uma pirâmide no Brasil.
Tenho notado que as pessoas tem dificuldade de iniciar um raciocínio bem direcionado sobre o assunto, principalmente por desconhecer a natureza dos blocos e consequentemente especulam, sem ter estado no local, uma origem colonial ou moderna para os blocos, inclusive achando que são de granito ou foram talhados para alguma obra de décadas passadas. Essas especulações sem base estão totalmente erradas.  


A natureza dos blocos do local.


Trata-se de blocos de basalto, ou “pedra ferro”, como é conhecida popularmente. Uns apresentam o aspecto de como foram colhidos na jazida, ou seja, em bruto, e outros  principalmente lajes, foram desbastadas para regularizar, assim como blocos maiores. Portanto julgar o aspecto do local com uma visão apenas geológica pode induzir a um erro fundamental que invalida qualquer caminho de pesquisa.
Perceber esta diferença entre bloco e bloco é fundamental para começar a fazer um juízo. A segunda observação que deve ser feita é de que o local do sitio principal não  é uma jazida de basalto, o que poderia explicar a presença destes blocos no lugar. Mas os blocos espalham–se por uma grande área, e devemos lembrar que foram retirados caminhões deles para usar em construção, durante décadas. Lembro que pude confirmar terem sido retirados do sitio  principal mais de 80 caminhões de blocos . Por ai vemos como ele foi descaracterizado nos últimos 30 anos. Alem de terem sido usados em obras na fazenda , a igrejinha do local teve suas  fundações construídas com blocos do sítio.Tudo vinha acontecendo pelo completo desconhecimento do que poderia ser aquela construção, não havia diagnostico algum, de ninguém.     


A formas  que apresentam os blocos mostram que  nem sempre foram talhados, eles  deixam claro de  como era  o tipo da jazida de onde vieram. Era uma jazida típica de basalto com blocos em disjunção colunar ou prismática, fragmentando-se também em blocos menores, tendendo para uma forma hexagonal. Falando bem claro, o material usado na ruína de Palmeiras veio de uma jazida similar às que vemos nas fotos em baixo. Onde está esta jazida? Ainda não a conseguimos localizar.o uso de blocos de basalto ou andesita e comum na arquitetura pré-colombiana. muitas vezes já vem com talha natural  de lados retos, o que facilita seu uso.

  
 
Formações de jazidas de basalto, em varias partes do mundo, o piso em forma de lajes hexagonais é chamado de  "calçada dos gigantes", fica na Irlanda. A  ultima foto mostra blocos de basalto evidentemente retirados da jazida e levados a esse local. Note como seria fácil regulariza-los  para obter uma peça similar a um dos   grandes blocos que mostramos mais  a frente, achados  em Palmeiras.

   
 Em cima,  blocos na colina de Palmeiras, e embaixo jazidas  em formação colunar na Irlanda. O bloco de Palmeiras saiu de uma formação similar, mas evidentemente não "nasceu" ali. Que fique bem claro, os blocos foram levados para aquela colina por  mão humana.

A partir dai surge a interrogante de onde está a pedreira que  forneceu os blocos. Porque na área não se vê nenhuma delas, uma vez que é fácil distinguir uma jazida de basalto. Conclui-se que a jazida original, já deve ter sido soterrada há séculos. E isso já pode ser uma indicação importante da extrema antiguidade do sítio.
A vantagem de usar este tipo de material é  que os blocos mesmo na jazida já se encontram em grande parte separados e basta apenas destaca-los sem precisar fazer corte de pedra. Trabalho que para uma cultura que não dispusesse de ferramentas de bom corte, mesmo assim seria fácil. Estes aspectos poderiam reforçar a hipótese de estarmos frente a um monumento megalítico muito antigo.
Com certeza a opção de trabalhar com blocos de basalto foi muito comum em épocas passadas  em virtude de que eles já saem da jazida, em parte, com formas bastante regulares. Este detalhe já poderia  situar o origem do sitio em época bem recuada, em uma fase de pouco recurso técnico, ao menos para quem trabalhou aqui.Com certeza não seria necessário usar ferramentas de metal para este tipo de trabalho. Alem do que não se observam marcas de ferramentas metálicas , e ate ago não observamos  restos de argamassas.  
Na comparação com outros locais poderíamos especular tratar-se de um sitio megalítico similar a Gunung  Padang em Java , sem que isso pretenda estabelecer uma conexão cultural entre os dois locais. Suposição que ficaria fortalecida pelo fato de que  as culturas indígenas pouco anteriores à colonização não tinham habito de construções mais sofisticadas em pedra, ainda que haja algumas possíveis exceções. O trabalho de desbaste nos blocos que foram regularizados, não foi feito de forma alguma com ferramentas de metal. Pelo seu aspecto foram trabalhados com cunhas de pedra, talvez ate do próprio basalto do local, sem excluir o uso de outras pedras mais duras também. O sistema de polimento com areia, argila e água  também deve ter sido usado. 
Como exemplo, citaria que os moais da ilha de Pascoa foram trabalhados por desbaste com cunhas do próprio basalto, que também constitui os moais
.
Cunha de basalto  da Ilha de Pascoa, Foi suficiente este tipo de ferramenta para esculpir os moais.



A diferença entre um bloco regularizado e um  em estado bruto, tal como veio da jazida, é que a textura  superficial do bruto  costuma  ser muito mais espessa e possui uma camada de alteração bem oxidada e a característica cor amarronzada e não o preto do interior do basalto virgem. Ou seja, fica clara sua idade geológica e não cultural.


 

A duvida aqui, vendo a alteração superficial destes dois blocos, é se  vieram com esta forma da jazida  em estado natural , ou foram talhados, e esta textura superficial foi adquirida posteriormente. A segunda hipótese parece menos provável, porque indicariam uma idade enorme, mas não pode ser descartada a priori.  Na verdade esta alteração acontece principalmente pelo alto conteúdo de ferro que o basalto contém.Os dois blocos de corte regular são de Palmeiras.


Textura superficial de blocos onde podemos confundir um bloco desbastado com um natural. O muro que vemos,  fica em Gunung Padang feito com blocos como saíram da jazida, sem desbaste.Mas ali, também foram usados blocos talhados, ou melhor, polidos.   


Evidentemente o uso deste material foi resultado de uma visão pratica e adaptada a  limitações técnicas , e que tem exemplos em outras partes do mundo, e que mais a frente vou citar. O aspecto que blocos de basalto oriundos de uma jazida que apresenta disjunção colunar é típico e se repete em qualquer lugar do mundo, seu aspecto é dado no momento do arrefecimento rápido  da lava ao sair à superfície  como rocha extrusiva. Quando não chega a arrefecer em ambiente exterior forma o gabro.

possível geomorfologia antiga do local.


O local do sítio está a 800 m do rio Paraibuna. Do lado norte há uma cachoeira alimentada por um córrego que vem de longe e que  em cota, 70 m mais alta, se encontra com uma açude no morro acima. Na frente do sitio hoje também  há um açude.
 Analisando estes acidentes podemos fazer um quadro aproximado de como era o local antigamente. Considerando que em épocas passada a região era muito mais florestada, e havia consequentemente muito mais água, o rio Paraibuna seria muito mais espraiado e caudaloso, consequentemente haveria um grande lago no local do  açude que hoje existe.
 Este lago chegaria ate o sitio arqueológico, que por sua vez estaria servido  por uma cachoeira muito maior do que a atual. Considerando isto se explicaria porque o sítio esta tão longe do Rio Paraibuna que seria via de transporte  e abastecimento de água . Na verdade não estava longe, pois estava à margem de um lago adjunto ao rio Paraibuna. Isto é outra pista para estimar a antiguidade do sitio.




Panorâmica de Palmeiras, com o açude de cima e o de baixo onde deve ter existido um grande lago, à direita vemos o rio Paraibuna. O sitio arqueológico está na maior parte, à esquerda encostando-se à mata e na estrada. Infelizmente cada dia há menos água na região e nem se nota o rio que vem  de cima e da esquerda  apenas vemos tenuemente a garganta da cachoeira. 
Esta conjugação de fatores teria criado um local privilegiado, com muito peixe, ali mesmo, e sendo o local servido com muita água, condições ideais para estabelecer uma população. Diga-se de passagem, que hoje, com as imensas plantações de eucalipto na região, a água está sumindo, independentemente da seca atual que tem explicações em problemas que não tem causas apenas nessa região.


A colina principal do sitio domina o vale e provavelmente foi um centro cerimonial e de observações astronômicas, ou seja, o “centro comunitário do” local. E ali que se deve iniciar a pesquisa. Ali foram desenterrados dois muros e entre eles um calçamento, havia também um resto de escada. Pelo que observamos e levantamos com testemunhas ali havia  uma urbanização composta de muro e terrapleno com outro muro e uma escada estreita,central,Por coincidência é  parecido ao que vemos em Gunung Padang, o que não implica necessariamente em identificação cultural entre esse dois sítios. Mandamos fotos dos blocos e lajes achados em Palmeiras ao geólogo e pesquisador de Gunung Padang, Danny Hilman Natawidjaja, e ele se manifestou surpreso   com o aspecto que eles apresentam.  

Restos de elementos construtivos e estruturas arquitetônicas que havia no local.


Pelo que vimos e pudemos levantar ouvindo testemunhas que  trabalharam na escavação. O calçamento que surgiu a mais de 1 m de profundidade era muito maior e se estendia na  direção do comprimento das pedras, mas essa área foi totalmente escavada e nem devem ter notado quando removeram muitos dos blocos que constituíam o calçamento. Em uma cota mais baixa, em direção ao córrego, havia um muro de pedras “bem juntinhas”  como o descreveu uma testemunha,  sem argamassa, porque foi facilmente desmontado, e os blocos que sobram no local não tem restos de argamassa alguma. No máximo, poderíamos pressupor que os blocos teriam sido em algumas ocasiões aglutinados com barro tal como a chamada “pirka” nos Andes, mas esse tipo de estrutura ao estar enterrada por muito tempo confunde o que é terra com o que foi aglutinante e só com escavações muito cuidadosas se poderia definir a técnica de alvenaria usada. Testemunhas confirmam que a parte  inferior do muro junto ao calçamento, está ainda lá, enterrada, porque foi propositalmente feito para disfarçar a ruína.Cabe observar que os muros que há no locaç estão orientados frontalmente na direção da cachoeira.
A seguir vemos fotos de evidentes vestígios arquitetônicos, uns mais claros, e outros a serem verificados 

      
Fotos de 2003, na ocasião da escavação. 

       

Restos do calçamento, e essa mesma  parte vista em planta. Indiscutivelmente  obra humana.A  ultima foto à direita , mostra os blocos do calçamento como se apresentam hoje apos ele ter sido enterrado novamente em 2003.


  
Nesta foto da esquerda feita no levantamento do Google Earth de 2013, aparece um alinhamento e depressão do terreno dando a ideia que ali ha um muro soterrado.Verificado o local , constatamos que há de fato um barranco  de mais ou menos 1 m. Porém no levantamento de 2014 não se  nada , ainda que ele esteja lá.


  
Blocos no local onde ficava o um dos muros, a foto da direita mostra o bloco da ponta esquerda da outra foto, em detalhe.Com relação à formação que aparece do lado, não podemos ainda diagnosticar nada .    

 

Na foto da direita pareceriam  restos da escada , mas esta foto é de 2003 e essa parte foi reenterrada.
  

 

As lajes  da esquerda sumiram.

     

O bloco da direita  fica  no mesmo alinhamento que outro similar no barranco exatamente onde foi parcialmente demolido um dos  muros. 
    
     
   
 
 
 
Alinhamento na parte baixa do sítio,  não sabemos se antigo ou fruto de um uso posterior mais moderno, com os blocos do sitio.

 



Blocos irregulares , que podem ter pertencido a um terceiro  muro inferior e mais bruto. note-se o barranco existente 

Todas as fotos  mostradas  são de evidentes vestígios arquitetônicos em Palmeiras. Surpreendente é que alguém diga que não são nada! Primeiro que a colina não é uma jazida de basalto, e segundo  que os vestígios, quase sempre, estão alinhados e nivelados. Precisa maiores explicações? Na ultima foto vemos um bloco que certamente já era bem regular ao sair da jazida e precisando de pouca regularização. Esse ultimo bloco pesa  900 quilos e mede 1.67 m de comprimento. Pelas proporções pode  ter sido uma verga de algum vão  em um muro.

Para   do calçamento havia outro muro, e hoje ainda vemos algumas pedras  possivelmente pertencente a ele.  Este tipo de construção é uma constante em muitos centros cerimoniais em varias partes do mundo.  A partir dai podemos especular que o amontoado  de pedras que vemos mais abaixo também faziam parte de outro muro que devia chegar ate perto do atual leito do córrego que passa aos pês da colina e vem da cachoeira.
Uma testemunha descreveu os restos de uma escada estreita subindo a colina, e é de supor que os terraços e muros se repetissem em alguns trechos da colina. Seria logico haver uma escada subindo a colina e ela deve ter ainda alguns trechos soterrados, mas reconhecíveis.
O que havia no topo  não sabemos , assim como se há algo mais  enterrado na colina. Somente  escavações cuidadosas vão revelar esse  algo mais. De qualquer forma haveria que usar métodos de detecção eletrônica para selecionar locais de prospecção.


Na parte plana abaixo da colina há uma afloração de uma  estrutura de blocos,  parecendo restos de um alinhamento aparentando estar em uma parte ligeiramente mais elevada , perto dali há mais três platôs, insinuando restos de edificações, todos eles possivelmente às margens do antigo lago. Frente a eles e à sua direita encontram-se quantidade de blocos redondos de quartzo, à flor da terra, e possivelmente também enterrados. Muitos deles  foram levados para a fazenda, onde hoje podem ser vistos formando um circulo. É o caso de especular se esses blocos são originários do local ou estavam ali armazenadas para algum uso, ou ainda se eles marcavam alguma coisa, ou tinham algum significado religioso. Poderia também ser um acumulo de material para manufatura de laminas, pontas de flecha, etc.

Possíveis catástrofes que atingiram o sitio.


Se a localização do sitio era privilegiada, também não deixava de ser uma bomba de tempo. O rio Paraibuna deve ter causado enchentes em varias ocasiões como é comum acontecer nesses vales da região, ate hoje. Mas a maior ameaça deve ter vindo de cima, em possíveis grandes chuvas quando o outro lago existente no topo do morro, e o rio que vinha de longe alimentar a cachoeira, devem  ter enchido e causado uma tromba d’água que varreu toda aparte baixa do sítio e  que pode ter sido algo repentino. Esse processo pode ter se repetido diversas vezes durante séculos estando o local habitado ou não, o que deve ter contribuído para descaracteriza-lo ainda mais.

Independentemente disso, sendo região de floresta atlântica, a vegetação deve  ter ido desmontando mais as estruturas em suas sucessivas fases de crescimento e morte das árvores. Finalmente chegou a civilização e o local foi usado como fornecedor de ótimos blocos de excelente qualidade para as construções locais, ao menos usados na igreja e na fazenda, se é que não em outros locais também. Todos se serviram dos blocos do sítio durante décadas ou séculos.
Estes  processos  que descaracterizaram este sítio  devem ter se repetido em diversos locais do território nacional, dai serem achados pouquíssimos sítios desse tipo. A ignorância da população não deve ter permitido diagnosticar estes sítios da mesma forma  como  aconteceu em Palmeiras. Dai o descredito acadêmico com relação a este tipo de assunto, ignorando-os oficialmente. E permanece a afirmativa duvidosa, de que o Brasil não tem arquitetura pré-cabraliana construída em pedra.

Semelhança com outros locais no mundo.


Evidentemente que a semelhança começa com o tipo de blocos de basalto que se assemelham em todas as partes do mundo, mas  a forma de usar e a disposição das estruturas também têm similitudes, e quem sabe, a antiguidade também.
Citaria  principalmente, dois  sítios. São eles Nan Madol , na  ilha de Phonpei,  Micronésia  e   Gunung  Padang  em Java , Indonésia. Com o local de Nan Madol a semelhança limita-se a que a técnica de construção de muros e estruturas em geral usou blocos sem desbaste, principalmente colunas de basalto para compor as alvenarias, o que evidenciaria uma forma pratica de trabalho consagrado, e na técnica de aproveitar um material bruto de forma muito pratica. Considerando a proximidade com Java poderíamos supor que a técnica usada em Nan Madol tenha sido trazida desde Java. Porque ao que parece, Nana Madol é muito mais nova do que Gunung  Padang.

Nan Madol na Micronésia . Uso pratico e inteligente de blocos de basalto colunar sem desbaste.  Note as colunas  naturais de basalto tendendo para um perímetro hexagonal.



                           

  O sítio de Gunung Padang em Java, com uma reconstituição de como seria originalmente. Nas  fotos acima, vemos blocos sem desbaste e também blocos regularizados.Neste sitio está fazendo pesquisas o geólogo Danny Hilman Natawidjaja, e quando lhe mandei as  fotos dos blocos de Palmeiras, ,também de basalto como em Gunung Padang, ficou surpreso com a regularidade da maioria deles.



  Já o sitio de Gunung  Padang tem semelhanças de planta arquitetônica com Palmeiras ao menos em linhas gerais,  pelo pouco que podemos ver hoje e pelo que sabemos por testemunhas que a  descreveram quando trabalharam na escavação. Semelhança em terraços , com muros de arrimo  e a orientação para um ponto de referencia especifico. Curiosamente os dois sítios estão de frente para um rio próximo, Gunung Padang olha para o vulcão mais próximo ,  e a frente do sitio em  Palmeiras olha para o nascer do sol no solstício de inverno.  A técnica de uso de blocos sem desbaste e sem argamassa se repete, mostrando uma certeza de enfoque construtivo, possivelmente adquirida com longa prática. Também a utilização e  a disposição sobre a  colina , em terraços, seria similar a Gunung  Padang. Existe também em Palmeiras um alinhamento de blocos de basalto isolado que é similar aos alinhamentos em Java, e o vemos nas fotos mais acima. Este alinhamento pode ser parte de uma estrutura soterrada na margem do antigo lago e com certeza sofreu diversas inundações e trombas d'agua, pela sua localização, na linha direta da cachoeira.

Qual seria a antiguidade  do sítio de Palmeiras?

Sem maiores pesquisas no local é  difícil  dizer algo. Mas podemos fazer algumas especulações. Se aquelas estruturas não foram feitas pelos índios que ocupavam o território na época pré-cabraliana, imediatamente anterior à colonização portuguesa, dificilmente pertenceu a uma cultura que tenha convivido com as tribos tupis. E esta hipótese parece muito provável. A invasão das tribos tupis teria exterminado,ainda  que assimilado algo das culturas que aqui já estavam, como aconteceu com os povos  sambaquieiros.Seria o mesmo processo que aconteceu em todas as partes do mundo quando povos mais bárbaros invadiram regiões de populações  mais cultas e pacificas.    
Portanto tudo levaria  a crer que o sitio já poderia ir sendo situado em época anterior à chegada dos tupis. Há o testemunho de que uma cerâmica ao menos foi achada sobre a pavimentação de Palmeiras, mas foi destruída e perdida. Apenas por esse fato  alguém poderia dizer que o sitio não seria tão antigo assim para ser considerado megalítico. Mas a presença de cerâmica pode ser de origem posterior. É evidente que este sitio sofreu  sobreposição de culturas ao menos parcialmente, em virtude de sua provável grande antiguidade.
Certos blocos lembram o tratamento dado nos Andes a blocos de tamanho e padrão similar nas alvenarias, dai haver sido especulado a possibilidade de uma eventual entrada vinda dos Andes. O que teria que ser situado provavelmente com maiores possibilidades na época da expansão do império inca, mas isso teria criado conflito com as tribos dos tamoios que ocupavam a área. Eles não teriam permitido, certamente. E se essa hipótese a considerávamos no inicio, agora ela parece estar mais fora de questão.
 O tratamento de alguns blocos em Palmeiras também  se assemelha ao sítio de Poro Poro no Peru, sitio classificado como chavinoide, e ao qual se atribui uma idade de 3000 anos.

  

 
O sítio de Poro Poro  no Peru , o tratamento dos blocos é similar  a Palmeiras, assim como a distribuição no topo da colina , ainda que em Palmeiras não possamos ver claramente o terreno original. Todos estes sítios possivelmente foram construídos sem ferramentas de metal, dai o aspecto mais tosco dos blocos e por isso  há  aspectos parecidos na talha. Em Poro Poro foi usado material semelhante ao basalto, o chamado andesito, que é uma rocha também  extrusiva própria da região.
Voltando ao  mistério de Gunung Padang, ali tem sido especuladas  idades absurdamente antigas para o monumento, chegando a falar em 12 000 anos e mais . Não sei em que se basearam para datar isso. mas sei que lá, eles tem recursos técnicos para fazer estas medições. Quando se trabalha com blocos de basalto, é preciso tomar cuidado, porque um bloco pode ter sido, e provavelmente foi, usado em bruto , portanto sua textura superficial apresenta uma idade tremendamente antiga , ou seja geológica, ou seja os blocos já estavam  “prontos”  muito antes de culturas ocuparem a área. No entanto há blocos com texturas evidentemente trabalhadas.

 Muitos blocos de Palmeiras mostram isso. E achar restos de carvão ou de fogueiras, se não foi em escavação muito controlada, não são indícios de datação confiável. Mas quem diz que a ruína de Palmeiras não possa ser antiquíssima?  

Mas o que denuncia estes sítios arqueológicos é que os blocos estão fora de sua jazida, portanto, foram levados para ali por mão humana. Já vi fotos de pessoas em Gunung Padang medindo e observando blocos naturais em uma jazida natural , como se fossem obra humana, é possível que não estejam percebendo a diferença entre um bloco na jazida junto aos outros e um bloco deslocado para um uso construtivo. As formações do basalto são às vezes impressionantes e parecem monumentos artificiais.

Aqui no Brasil, em Caxambu do Sul, falavam em uma “pirâmide inca” encontrada, mas olhando com atenção nota-se que não passa de uma jazida de blocos de basalto colunares, todos ainda bem juntos, em posição inclinada, portanto uma formação natural.

Só saberemos a idade do sitio de Palmeiras quando, em escavações, forem detectados vestígios de fogueiras  originarias de uma ocupação, ou outros restos datáveis.E para isso, alguma universidade deveria pesquisar o local.


Como ultima especulação poderíamos supor que   Palmeiras seja um sitio anterior ao uso  corriqueiro dos metais. Apesar de sabermos que na arqueologia nacional, oficialmente o uso de metais estaria descartado. Palmeiras teria sido um acontecimento o suficientemente antigo  onde as técnicas de trabalho  ainda não dispunham também de ferramentas metálicas, dai a preferencia por blocos de basalto já  naturalmente regularizados, tal como em Gunung  Padang. E isso poderia situar-nos em um contexto de culturas megalíticas bem antigas.


Possíveis utensílios e cunhas achadas em Palmeiras.


  

Peças semelhantes a cunhas e outras pedras  foram achadas no topo da colina a pouca profundidade em prospecções superficiais, mas como foram limpas por método não profissional não me atreveria a garantir que sejam de fato ferramentas líticas. Posso adiantar que todas são de basalto, e tem tamanho  que  seria compatível com  as possibilidades de uma  mão humana, usando-as para picotamento. Outras  pedras encontradas parecem ter registro de algo através de pontos e desenhos  simples.  A saber, uma tem algo que se assemelha a um pássaro e outra a uma cruz, ambos os desenhos cercados de pontos. Alguém sugeriu que seriam registros astronômicos.
 
 Teríamos que conseguir muito mais peças similares para especular em cima  de  algo mais concreto. Estes objetos foram achados em circunstancias sem muito registro e ordem  por isso devemos esperar melhores  oportunidades para tentar localizar similares.mas adianto que foram achadas no topo da colina em prospecção improvisada.  Temos consciência de que tudo o que aqui comentamos não tem por enquanto respaldo na arqueologia nacional reconhecida, mas são os fatos  que comprovamos no exame que foi possível fazer no local e baseados em experiência na área de arqueologia e arquitetura durante mais de 40 anos. 
Carlos Pérez Gomar , arquiteto e urbanista .30 de setembro , 2014           

4 comentários:

  1. Sr. Carlos, vim conhecer esta história através do blog "Noite Sinistra" e fiquei pasmo com a falta de interesse na arqueologia brasileira. Eu sou uma pessoa totalmente leiga no assunto, não sou um profissional, mas somente um curioso que gosta do assunto.
    Então como o senhor é uma pessoa instruída, gostaria de saber se tem algum lugar que posso escrever indagando o pq não é feito um trabalho correto neste caso. E ficar indagando, incomodando até quem sabe eles venham a fazer o correto.

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    1. Elson : Obrigado pelo seu interesse . Na verdade quem deveria se interessar pelo assunto seria o IPHAN através de sua superintendência em São Paulo. Mas desconfio que houve um arranjo para não esquentar o assunto em função do sitio ter sido violentamente destruído de forma parcial pelo proprietário do terreno ,que achou que encontraria algo de valor. Como o proprietário estudou na USP e os peritos que foram ao local também eram da USP , não tiveram interesse de levantar o assunto inclusive porque o proprietário já havia enterrado tudo o que pode, e era fácil fazer vista grossa para não incriminar ninguém . Por outro lado, o departamento de arqueologia do IPHAN e constituído de arqueólogos que estão voltados para outro tipo de arqueologia que não engloba uma caso como este, de uma ruina pré-colombiana de natureza mais avançada. E como o IPHAN e autoridade legal , as besteiras que eles dizem ficam valendo como verdades , inclusive porque não estiveram nem pesquisaram o local tanto quanto nos. Alias é um assunto que eles em principio não admitem existir no Brasil. O que é preciso é continuar a levantar o que for possível em campo, tendo sorte de achar algum vestígio bem evidente e incontestável. É o que pretendemos fazer nos próximos meses. Infelizmente nossos recursos são limitados, e eu estou a 400 km do local , o que limita minhas idas ao sitio. Uma boa reportagem na televisão ou em revista especializada poderia trazer o assunto à discussão. Mas como não podemos escavar à vontade no local não temos como mostrar evidencias de muros pavimentações ,escadas e muito menos utensílios que haja no local. Reiterando um resumo sobre o que parece ser Palmeiras , diria : Ali há vestígios e ruinas de algo similar a um centro cerimonial com arquitetura similar às culturas andinas. Coisa totalmente fora de padrão no que tange às culturas indígenas que conhecemos no Brasil. E esta afirmação minha é exatamente igual ao que o geólogo Paulo Roberto Martini disse em relatório mandado ao Ministério Publico, e também concorda com o que O Professor Luiz Galdino do IHGB-SP acha . Todos nos, eles e eu, estivemos individualmente na ruina de Palmeiras. Eu já fui 5 vezes, além de conversar com gente que a escavou e voltou a enterrar. Qualquer coisa me procura pelo Face Book, por Carlos Pérez Gomar . Abs.

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  2. Nossa sou da região e nunca ouvi falar desse sítio arqueológico, to impressionado!

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  3. Boa tarde Gonar. Recentemente estive visitando uma jazida historica de blocos de arenito exagonais, chama-se Cerro Koi, em Aregua, Paraguai. A formação e muito semelhante a essa q vc esta estudando. Solicite-me fotos ou maiores detalhes por meu e mail. abraços

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